segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Capítulo 2

Pensando bem, Ricardo Soares sabia exatamente porque estava no Japão dois. Há alguns anos atrás, viu uma reportagem na TV dizendo que os japoneses conseguiram construir uma réplica de seu país e ficou extremamente confuso, abismado e curioso para saber como era isso. Suas curiosidades eram:

1 - Saber se era tudo igualzinho ao Japão.
2 - Ver se não tinha algo que eles não conseguiram copiar e rir da cara deles.
3 - Saber quem eram os habitantes do país.
4 - Ver se a grama era mais verde do que a do Japão um (antigamente só Japão)

E como a roda da justiça te dá o que você quer mas não sabe, ele sabia que, sem saber, estava desejando ir para lá. Se ele não soubesse que queria salvar Tablita, sabendo que queria, ele sabia que iria para lá. Mas não foi. Agora tinha que sair do Japão dois e reencontrar sua amada.

- Oi mano japa dois. Como vai?
- Vou bem. E você você?
- Eu eu?
- Ah, me desculpe. É que os habitantes do Japão dois às vezes repetem as palavras.
- Mas falei com um mano aí que não repetia nada.
- Ele deve ser turista.
- Hum, entendi mano. Não precisa se desculpar.
- Ah, que bom bom.
- Você tá me chamando de bombom?
- Não, é a repetição de novo. Quis dizer bom bom.
- Que?
- Nada não não. Então, o que você faz por aqui aqui?
- Ah, fui trazido para cá pela roda dourada da justiça.
- Hum. Que interessante.
- É, mas preciso ir embora embora. Ih, Meu Deus, peguei essa mania.
- Acontece.
- Preciso ir embora.
- Ah, é impossível.
- Por quê?
- Para isso você precisa pegar os cinco artefatos sagrados com os cinco magos descuidados cozinheiros passando os seis picos da ingrimidade e solidariedade solidariedade.
- Seis picos?
- É, mas um não tem nada.
- Ah.

Sabendo que tinha feito uma amiga, Tablita percorreu o restante da floresta do auto-encontro feliz. Infelizmente, tinha algo que a aborrecia. Onde estaria seu amado? Pra onde Ricardo Soares teria ido? Será que ele desistiu de salvá-la? Não, isso não. Tablita sabia que seu amor era grande demais para isso. Passando por uma barraquinha de hotdog e faminta, Tablita parou subitamente.

- Oh, hotdogs! – Tablita nem notou que era esquisito ter um vendedor de hotdogs no meio de uma floresta.
- Yes, baby, milady. – O rapaz era escolado.
- Como estás, ó cidadão? - Tablita tentou se mostrar escolada também. Vai que ele gostava dela e lhe daria uns hotdogs.
- Estou bem, ó maninha. Queres um hotdog?
- Por favor, estou com muita fome.
- Tome. Coma, coma bem, para ficar fortinha.
- E crescer?
- Não, só ficar forte.
- Ah.
- Nossa, que fome heim? Ta devorando meus Logwartdogs.
- Logwartdogs?
- É. Sou o Larry Blotter, não sabia?
- Não.
- Ah. E então, o que faz por aqui, donzela perdida?
- Estava na casa da Lita Ree.
- O quê?
- Lita Ree.
- Lita Ree? Lita Ree? A que todos procuram, mas nunca acham? Que vim encontrar?
- Sim. Ela mora... É... Espere. O que você quer com ela? – Tablita ficou desconfiada.
- Onde ela mora? Onde? – Larry pirou de repente.
- Não posso te contar enquanto você não me disser o que quer com ela.
- É... quero dar umas flores pra ela.
- Duvido.
- Me conte menina. Senão...
- Senão o que?
- DESCANSARDITES PERNOITASTES!

***


E lá se foi Ricardo Soares atrás dos seis picos da ingrimidade e solidariedade, para tentar sair do Japão dois e resgatar Tablita. Ele não conseguia entender porque tinha que passar por isso tudo apenas para sair de um país. Mas sabia que era um ótimo jeito de segurar seus turistas.

Chegou à primeira floresta do primeiro pico e percebeu diversas plantações de hambúrguer, de alface, de queijo, de molho especial, de cebola, de picles, de pão e de gergelim. Achou muito tudo isso gostoso e estranho.

Chegando ao topo do pico, avistou ao longe, mas com um olhar bem próximo, o primeiro mago descuidado cozinheiro, chamado Vladmir.

- Hello, amizade. – Ricardo já apresentava todo seu charme.
- Respeito com o grandioso mago descuidado cozinheiro da terra do HAQMECPPG. – O mago parecia rígido.
- Oh, me desculpe. Achei que fosse casual chique o modo de falar.
- Não. Nunca foi e nunca será. Mas até que pode ser.
- Ah, belezóide.
- Bele... é... zóide, amizade.
- Isso ai.
- Hahahaha. Que divertido. Qual seu nome, viajante?
- Ricardo Soares. Da grande família Soares que povoa o universo de modo digno.
- Sei muito bem. Meu nome é Vladmir.
- Oh, senhor Vlad. Queria o artefato que o senhor possui para ir-me emboritcha.
- Você quer o artefato para ir embora?
- Sim. É que tenho que salvar minha amada.
- Ah, ok ok. Mas para tal você necessita de passar no super teste do super mago.
- Teste?

***


Tablita mais uma vez acordava em um lugar estranho, sem saber o que lhe aconteceu, com um cheiro estranho a sua volta. Mas agora não era café, era um cheiro de colônia masculina, um cheiro puro e selvagem de colônia masculina, utilizada em abundância por ingleses. Assim, achou que estava na Inglaterra. Mas não estava, estava no cativeiro de Larry Blotter, o mago maligno que queria capturar Lita Ree.

- O que você fez comigo, seu bruto?
- Apenas te botei para dormir com meu encanto de mago.
- Encanto de mago?
- Encanto de mago.
- Então você é um mago?
- Sim, claro que sou um mago. Só magos podem ter encantos de Magos.
- Faz sentido.
- Claro, sou um mago.
- Tá. Deixa esse negócio de mago pra lá. O que você quer de mim?
- Quero saber onde está a Lita Ree.
- Não posso te dizer. Sinto que você tem intenções malignas para com ela.
- É claro que tenho. Sou um mago maligno.
- Para com isso de falar que é mago. Eu entendi que você é um mago.
- Maligno.
- Tá, que seja.
- Então me fale onde ela está.
- O que você quer com ela?
- Quero o artefato que está com ela.
- Artefato?
- É. Assim vou poder ser um dos magos descuidados cozinheiros do Japão Dois.
- O que?
- Você não entenderia. É um negócio de mago.
- Ah.

***


Correndo contra o tempo para realizar o teste, que era fazer um sanduíche que agradasse o mago descuidado cozinheiro da terra de HAQMECPPG com os alimentos plantados na sua floresta, Ricardo Soares estava completamente exausto.
Mas sabia que devia continuar, pois era seu futuro e o futuro de Tablita que estavam em jogo. Tentou fazer a combinação de três hambúrgueres, nove alfaces, duzentos queijos, dois molhos especiais, pouca cebola, muito picles, em três pães, sem gergelim.

Achou Big, mas não tão gostoso. Pensou em fazer diferente, com sete hambúrgueres, dois alfaces, cem queijos, um tanto bom de cebola e picles, em meio pão com dois grãos de gergelim, mas achou muito Mac.

Se movendo para achar a combinação perfeita, Ricardo Soares encostou, sem saber, na árvore em que residia um espírito, aparentemente.

- Quem me acorda a essa hora? - Um fantasma aparecia por trás da árvore em que Ricardo Soares encostava.
- Oh, meu Deus! Quem será esse fantasminha camarada? - Ricardo rezava para este fantasma ser igualzinho o Gasparzinho.
- Meu nome é Bartholomeus. Tenho ânsia pelos seus.
- Meus o que?
- Não precisa se alarmar. Era só pra rimar.
- Você é doido?
- Não, sou um amigão.
- Ah, então você poderia me ajudar com uma questão. - O rapaz resolvera entrar no jogo das rimas.
- Rimando também? Gostei neném.
- Preciso fazer um hambúrguer de morrer.
- Não se assuste não. Tenho a solução.
- Ah esse negocio de rima já cansou. - Desistira rapidamente do jogo de rimas.
- É... eu sei. É que quando eu era vivo não tinha nenhuma marca registrada. Queria que, agora que estou morto, a minha marca registrada fosse isso de rimar.
- Ah, mas isso é muito chato.
- Eu sei. Vamos, vamos trabalhar no seu hambúrguer.
- É assim que eu gosto.

***


Tablita percebeu que tudo estava indo longe demais. Achou isso bem perigoso, pois gosta de saber exatamente o tipo de loucura em que se metia e parecia que nesses últimos dias ela estava indo com a maré, sem se preocupar com o futuro. Isso era algum sinal.

- Quando você esteve na casa de Lita Ree, viu algo que possa ser meu artefato? - Larry Blotter sabia que a garota escondia algo.
- O que exatamente vem a ser esse tal de artefato? - Tablita não queria cooperar com o garoto estranho. Mas também não queria morrer. Ia jogar o jogo dele.
- É um objeto que aumenta os poderes do mago que o utiliza.
- Hum. - Tablita começou a pensar no que havia visto de legal na casa de Lita Ree.
- E então? Viu algo assim?
- O artefato pode ser um utensílio de cozinha? - Ela se lembrou de algo diferente.
- Claro. Esses são os melhores artefatos.
- Pode ser um bule?
- Bule?
- É. Um Bule de café.
- Não pode ser.
- Não? Então tá.
- Não. Pode ser sim. Eu quis ser dramático.
- Ah, entendi.
- Mas, voltando ao assunto. Não me diga que a Lita Ree possui o bule de café da eternidade e supressão de ruído?
- Olha, da eternidade eu não sei. Mas não fazia nenhum barulho mesmo. - Lembrava-se do bule exatamente por esse pequeno detalhe estranho.
- Meu Deus! É o bule de café da eternidade e supressão de ruído.
- O que tem de tão bom nesse bule?
- Se você tomar o café feito nesse bule, você se torna imortal.
- Nossa! E a supressão de ruído?
- É só pra não fazer barulho mesmo.

***


Junto com Bartholomeus, Ricardo Soares conseguiu bolar uma receita de hambúrguer maravilhosa. Subiu o pico da ingrimidade e solidariedade e foi mostrar sua invenção a Vladmir, o mago descuidado cozinheiro da terra de HAQMECPPG.

- Meu Deus. Isso é incrível.
- Gostou, murmeido? - Ricardo Soares sabia que havia feito um bom trabalho, pois provara o sanduíche e estava realmente muito bom. O fantasma foi camarada mesmo e o ajudou bastante.
- Muito. Isso está sensacional.
- Eu sei.
- Você acertou em cheio a combinação. Isso foi a melhor coisa que já comi. - Vladmir estava realmente adorando o sanduíche.
- E ai? Consegui o artefato?
- Claro, claro que sim. Mas com uma condição.
- Qual condição, papito?
- Você deve me dar os direitos desse hambúrguer.
- Ah, só isso? Considere feito.
- Oh, que bom. Agora vou poder abrir meu negócio próprio. Um fast-food.
- Que legal cara.
- Só não sei como vai se chamar.
- Eu sei como você deve escolher o nome do seu place.
- Como?
- Pense nas duas coisas que você mais gosta e misture-as.
- Vamos ver... Gosto de rap, de cantores de rap.
- Os MCs?
- Isso. E também do Pato Donald.
- Pronto. Agora junte os dois e crie seu nome.
- Que boa idéia. Vou fazer isso.
- Mas agora devo ir. Você pode me passar o artefato?
- Ah, sim, sim. Tome. A espátula da consciência e inconsciência múltipla.
- Nossa. Que legal.
- Não é só legal. Com essa espátula você pode entrar nos sonhos das pessoas.
- Vlad, isso é belozóide. Muito obrigado.
- De nada. Obrigado pela receita do sanduíche número um do meu restaurante, o Pato MC. - Quando Vladmir disse o nome do seu restaurante Ricardo fez uma cara feia.
- Ah, não gostei do nome. - Realmente Pato MC não era um nome legal.
- Não? Pensarei em outro.

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